domingo, 13 de fevereiro de 2011

Like a Clockwork Orange ( 9th Symphony by Jethro Tull)



Análise do filme Laranja Mecânica

Indicado ao Oscar de melhor filme, Laranja Mecânica é fascinante, bizarro em algumas cenas, mas acima de tudo, um filme inteligente. Evidencia o desvio de comportamento, demonstrado brilhantemente por Alex De Larg. Apresenta um elemento psicossocial, o Behaviorismo, método que foi utilizado para condicionar Alex, como por exemplo, o soro experimental, onde a violência foi substituída pela ânsia de vômito. O Behaviorismo é determinado pela análise do comportamento, objeto de estudo da psicologia. Alex tinha instinto natural da violência o que fez lembrar-me outro filme, “Assassinos por Natureza”, onde Mickey Knox (Woody Harrelson) e Mallory Knox (Juliette Lewis) se uniram pelo desejo natural de matar.

Retornando ao Laranja Mecânica, o filme retrata a violência de jovens delinquentes liderados pelo egocêntrico Alex. Achei fascinante o contraste de beber leite, que aparentemente representa saúde, pureza e a música clássica, que segundo definição de alguns dicionários seria qualquer música em que a atração estética resida principalmente na clareza, no equilíbrio, na austeridade e na objetividade da estrutura formal. Essa definição da música clássica foge a regra para Alex, para ele representa à subjetividade, o emocionalismo exagerado, a falta de limites usando para tanto como parte de sua necessidade de violência desenfreada.

Outro exemplo de contraste é quando Alex estupra a mulher do escritor e espanca-o, cantando “Singin’ in the Rain”, Cantando na chuva, que é de tema levíssimo, alegre.
Um abre aspas, lembrei de um filme agora, Contagem Regressiva, onde o brilhante ator Tommy Lee Jones, escuta U2, a música With Or Without You, enquanto prepara uma bomba. Noutra cena desse filme, lembro-me da 9ª sinfonia de Beethoven contrastando com cenas de estrema violência, de bombas destruindo locais e pessoas. Parece que a música de certa forma tem forte ligação com algumas mentes doentias, e repito, de certa forma parece fascinante essa combinação. Retornando ao Laranja Mecânica, Alex faz essa combinação da música, da boa música, com a necessidade, o desejo natural de cometer violência. A 9ª sinfonia de Beethoven, por exemplo, era sua preferida. Dentro do universo musical de Alex, a música transcendia os limites do comum e não é diferente o que penso da música, o que muitos pensam, aliás. Algumas sinfonias, como as de Bach, Mozart, como o próprio Beethoven, são intensas, carregadas em algumas notas, em alguns momentos, misteriosas em outros. Podemos senti-la eriçar a pele, tocá-la, é possível sentir a presença de algo inigualável, mágico, a música tem alma! Eleva a mente a um nível que é preciso ter o controle das emoções, emoções estas que podem aflorar segmentos da mente nunca experimentados antes. E acho que o escritor do romance que inspirou o filme Laranja Mecânica, o inglês Anthony Burgess, tinha essa percepção da música. Brahms se refere à música de Beethoven dessa forma: "ouvi-la é como escutar atrás de si o ressoar dos passos de um gigante". O que faz lembrar-me de outro filme, “Minha Amada Imortal”, que tem como tema principal um amor secreto de Beethoven. Numa cena em que Beethoven está completamente surdo, a sinfonia está impregnada na mente dele, brilhantemente ele conduz a orquestra. Enquanto isso recorda a infância, do pai violento, me emocionei bastante. Beethoven fecha os olhos e a 9ª sinfonia está lá, junto das imagens de violência de sua infância.

Retornando, Alex tem o perfil de um desequilibrado mental, um alucinado que despreza a lei, a sociedade, a família e a religião. Um exemplo são as esculturas que tem no quarto de Jesus Cristo na cruz, sem tapa sexo, com pênis exposto. E o que é mais interessante é que isso não deixa de ser fascinante, não o Cristo nu, mas a forma diversa como conduz sua vida. Na prisão tem a opção por uma sentença condenatória longa ou a submissão a um tratamento experimental que lhe faria sentir aversão a violência. Alex aceita ser cobaia no tratamento experimental, assim a reversão de Alex é feita a partir de imagens televisivas e sons. Com o tratamento, além da aversão pela violência, não poderia tocar em uma mulher nua e como efeito subsidiário não ouviria mais a 9ª sinfonia de Beethoven, sua favorita como já disse. Em um primeiro momento entendi que como a música tinha ligação intrínseca com a violência, pudesse fazer parte do tratamento. Sendo que uma coisa ligaria a outra, seria natural que a música fosse banida juntamente com a violência.
Antes do tratamento, quando Alex comete seu primeiro homicídio, ele é traído por seus companheiros, que já não aguentavam seu jeito de comando e seu egocentrismo. O instinto doentio e incoerente de Alex, além de outros crimes, faz com que ele mate uma mulher. A morte passou a significar que Alex pouco se importava com as pessoas, era normal para ele ser totalmente despido de sentimentos.

Depois do tratamento, Alex perde a capacidade de se defender, os pais alugam seu quarto e entregam ao hóspede o aparelho de som. Sem a cobra de estimação, que foi morta, deprimido começa a perambular pelas ruas de Londres. Apanha violentamente de dois policiais, ex- amigos da gang que ele comandava. Depois vaga pelos bosques até chegar à casa da mulher que estuprou, o marido dela, o escritor deixa-o entrar, dá bebida a Alex e tenta fazer com que ele se suicide tocando uma versão da 9ª sinfonia de Beethoven. Alex joga-se da janela, porém sobrevive, depois de recuperar-se no hospital, recebe a visita do Ministro do Interior, o mesmo que havia selecionado Alex para o tratamento experimental. Após desculpar-se com Alex pelas consequências do tratamento, diz que o governo oferece trabalho caso ele aceite apoiar na eleição do partido conservador. Ao final do filme entende-se que Alex retorna ao estado anterior, porque vê uma fantasia e pode escutar novamente a 9ª sinfonia de Beethoven.

O filme demonstra nitidamente a violência banalizada, não só a violência dos jovens, do uso das drogas, do sexo grupal, da insignificância pela vida humana, mas mostra também a violência da própria sociedade, da polícia. Do poder do governo através da ciência, querendo manipular a sociedade usando para isso experimentos que anulam o próprio ser humano de pensar e agir por si próprio, de seus instintos naturais.

Enfim, vale conferir as cenas bizarras do clássico filme Laranja Mecânica.

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